Pequeno Conto de Ano Novo
Marco Mello
Ele corria contra o tempo
Em meio à multidão, em meio aos contratempos.
Sons de buzinas, gritos de alegria invadiam seus ouvidos.
E em seu rosto um preocupante sorriso, aliviava a sua pressa
num momento.
Pelas ruas que passava, avistava tantos rostos e na memória
os rostos das pessoas amadas, aumentavam a vontade de chegar
O transito caótico aumentava e cada vez mais, carros e gente
passavam a sua frente.
Preciso chegar a tempo pensava.
O ônibus lotado trazia cheiros, sorrisos, misto de amargura,
alegria e ansiedade.
Pela janela os vultos da cidade e nela pessoas de todas as
idades, confundiam-se com faces conhecidas aguardadas e amadas.
Por um instante pensou em sair acenando pra todos os que
passavam, como um gesto de abraçar pessoas que seguiam pelo mesma viagem.
O clima era de festa... fogos iluminavam os céus em pequenos
espaços.
E o tempo passava... Voava... E o relógio marcava mais horas
do que precisava
O ônibus para no terminal... Milhares de corpos caminham
como que levados uns pelos outros
Escada rolante... Corredores... Barulhos de trens.
Afinal chega o metrô.
Mais gente, menos espaço... Espremido em seu banco, divide os sonhos com as imagens dos corpos e silhuetas.
Alguns indo, outros chegando... Voltando... E se despedindo.
Um que lhe chama atenção entra pela porta meio perdido, como
se fosse sua ultima viagem... Idade avançada, pernas cansadas.
Sua velhice... Tem rugas, mas na face um sorriso de missão cumprida.
E como se fosse um velho
conhecido... Ele o olha, abana a cabeça com um olhar de cumprimento e um boa
noite sai pela sua garganta como se só os dois existissem em meio a tanto
movimento...
Oferece seu lugar: - Sente-se aqui
meu senhor
E aí seus olhos agradecidos o
fazem esquecer-se do relógio e das horas que se vão rápido
-Obrigado filho... Estou mesmo
cansado... O ano foi de muitas preocupações e ocupações
-Mas enfim... Estou de partida.
-Vais pra longe? Pergunta
E ele diz:- Nem tanto... Na minha
idade nem dá pra ir muito... E sorrindo continua:- Afinal a estrada esta acabando, mas ainda há tempo de ver uma criança nascer. E sorri o melhor dos sorrisos.
Entusiasmado, ele acompanha o seu
sorriso e diz:- Me atrasei, mas também não vejo hora de encontrar meus
filhos e família:
- O senhor também vai encontrar os
seus familiares? Pergunta.
Ao que responde enigmático:-
Eu percorri por todos os dias desse ano esperando esse momento... Essa nova
vida que nasce hoje pra mim representa a continuação do meu trabalho...
O trem começa a frear... É sua vez de descer... Diz ao senhor:- Mais dez minutos e já estou em casa.
O velho homem se levanta lhe agradece o lugar
e ele, num ímpeto, o abraça e diz:- Feliz Ano Novo... E aquele Senhor lhe diz... com uma
ternura única:- Adeus ao velho...
Tempo de descer rapidamente... Vê um último olhar na janela do metrô... E um aceno corresponde ao seu por um
breve instante...
O celular toca : - Meu bem onde
você esta? Quase meia noite... Todo mundo está impaciente perguntando por você
em casa. - diz a esposa, preocupada.
Avisa que já desceu do metro e está quase em casa...
Caminha mais rápido... Entre as
ruas já meio que desertas, mas cheias de sons dos fogos... Das músicas, de
acenos nas janelas e papéis picados que caem dos prédios...
Entra em casa, em meio a abraços de
bom ano... E o sino toca doze badaladas...
Recebe uma taça no estourar da bebida
frisante e abraçado à sua mulher, a doce figura do velho homem lhe vem à
cabeça como que acenando e sorrindo com um bebê no colo...
Sorri também e ela lhe diz:- Ainda
bem que chegou a tempo... Por que demorou tanto?
E ele lhe responde:- Eu estava
dando adeus ao ano velho...
E a volta dos seus ergue sua taça e brinda ao velho sorrindo e saúda a todos
:- UM FELIZ ANO NOVO
:- UM FELIZ ANO NOVO